29 de out. de 2006

Calculadora é power

Sim, há vendedores que falam inglês (retifico, “chinglês”) em Pequim. Mas são minoria - especialmente no Silk Market e mercadinhos de pirataria do mesmo gênero. De qualquer forma, isso é apenas detalhe. O idioma não interfere tanto no processo de compra. Chinês tem alma de comerciante (se duvidar, faz negócio até usando a língua dos surdos-mudos) e sabe improvisar. Quando falha a fala, eles sacam a calculadora.

A calculadora é o objeto mór, ali na Pechincholândia.

Você nem abre a boca. Basta olhar pra alguma coisa, que o vendedor – ou vendedora – se mete na sua frente (passa por baixo do balcão, dá a volta, rodeia você, se joga pela lateral do reduzido espaço, se duvidar, até se liquidifica e ressurge – que nem assombração – a um palmo de distância do seu nariz) e apresenta a cifra em digital. Com a maquininha, eles indicam os valores – flutuantes – dos produtos. E não adianta fazer cara de ‘não, obrigado’!

O sujeito– ou a sujeita – não se dá por vencido assim facilmente. Move aqueles dedinhos pequenos freneticamente em cima da calculadora. Em dois segundo, estica o braço na sua direção, apressado, e reapresenta a cifra digital. Não gostou? Pois, de novo. E de novo. E de novo. A calculadora quase batendo pino e o indivíduo ali, com a língua de fora, os dedinhos impacientes, quase tendo uma convulsão. Vale tudo pra não te deixar ir embora sem abrir a carteira.

Pechinchar é o verbo

Os preços dependem de vários fatores. Dependem do seu look, do seu papo e da sua disposição pra fazer teatro. Claro: porque não existe compra sem regateio. Num processo padrão, o vendedor parte com um preço absurdo; logo abaixa; faz cara de bravo; quase chora de desilusão; acende um isqueiro do lado da bolsa (ou mala, carteira, jaqueta, o que for) pra mostrar que aquilo é "couro de verdade"; estica o tecido pra provar que não rasga; muda de tática se você parecer um pouco assustado; fala "em voz alta" que você é um negociador sabido; sorri; conta histórias; te segura pelo braço; te olha candidamente; diz que você é lindo(a); pede uma moeda do seu país pra coleção particular dele; pergunta se quer tirar uma foto com ele... Um artista.

Aliás, se você não quiser comprar nada, o melhor é nem chegar perto. Encostou na barraquinha, já era. Se pegar alguma coisa na mão, aí, meu amigo, prepare-se. É como se você tivesse declarado, de maneira muda, que gostou daquele ítem e está disposto a negociar. Em teoria, só falta acertar o preço. O vededor mais safo já nem aceita que você devolva o produto. Não pega de volta. Se você colocá-lo em cima da banca, ele te entrega o troço de novo. E fica naquele rame-rame: “100 yuans... Se quiser um desconto, faço por 90... Gostou? Vai levar? 70, vai... Vai, leva... Olha que lindo! É a sua cara... Como não vai levar? Não vai levar por que? Olha aí... Leva, vai... 50 yuans, agora. Tá na mão... Faço por 40, meu último preço... Peraí! Volta aqui, moça... Tá bom, eeeeeeeeeeei, paga 10... Aqui, ó... ei, moça, ei, ei. Vem cá,vem cá, volta aqui!”

3 Comments:

At 28/11/06, Anonymous Anônimo said...

i bought a camera. next time will have video of u bargainning :)
u are really a great bargainner !!

 
At 1/12/06, Anonymous Anônimo said...

É a Turquia! Pra ser mais exato, é o "povo do Mediterrâneo" de novo!

Uma vez em Istambul demoramos fração de segundo além do que seria aconselhável olhando uma vitrina com tapetes. O resultado foi que acabamos no interior da loja, confortavelmente sentados, e tapetes e mais tapetes eram jogados aos nossos pés. Temíamos que aquele monte de tapetes, que já era um impedimento à nossa fuga, nos cobrisse para sempre.

Muito papo. O Brasil? Ah, o vendedor adorava nosso futebol e nosso café! Fez-nos prometer que mandaríamos algum café pra ele. Os brasileiros? "Pessoas maravilhosas!", dizia e repetia.

O espetáculo terminou com um prosaico sorteio. Se ganhasse o vendedor, o preço seria o que ele pedia; se ganhássemos nós, o que oferecíamos. Resultado? Ganhamos. Que sorte a nossa, Juliana! O vendedor ficou impressionado, fez uma cara de que estava recebendo um preço vil. Mas, paciência, dizia ele, sorte é sorte. E, assim, venceu nossa última esperança de sair da loja sem comprar tapete.

Foi um show! Valeu pela lição de como vender algo que o cliente não quer. Valeu o preço que pagamos.

O tapete? Sim, o tapete, o que fizemos com o tapete? Agora não lembramos.

Cremilda
Weimar

 
At 2/12/06, Anonymous Anônimo said...

Siggerimento. Se il prezzo d'entrata ("entry price") è 100, la controproposta dev'essere 20

 

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