10 de abr. de 2007

A curiosidade chinesa


Todas histórias verídicas de estrangeiros aqui em Pequim:

Business man francês que veio à China pra fazer umas mudanças financeiras na multinacional onde trabalha. Imbróglio delicado. Mas ele chega munido de disposição, estatísticas várias, justificações com diversas casas decimais, diagrama de prioridades, blábláblá. Mostra tudo isso na reunião de abertura, quando agrupa, por primeira vez, as oito pessoas, todas chinesas, com quem vai trabalhar. A apresentação dura mais ou menos uma hora (u-m-a-h-o-r-a!) e detalha em profundidade os objetivos e desafios do novo plano. O tempo todo, os espectadores mudos, calados. O francês acha estranho, mas segue, delineando o sumário do negócio. No final, faz a pergunta do milhão: “Alguém tem alguma dúvida?”. Ninguém se manifesta. Ele espera, intrigado, já puxando um slide de power point pra defender os números mais conflitantes. Nada. Silêncio na sala. O francês insiste de novo... E eis, então, que um rapaz levanta o dedo. “Oh, sim! Diga”. E aí vem a interrogação: “Como se pronuncia seu nome?”. Nisso, outro, motivado pela iniciativa do colega, já emenda: “Você tem uma foto da sua família?”.

Amiga inglesa recebe funcionário chinês da loja onde ela comprou uma estante. O homem tem que montar o móvel na sala, mas se recusa a fazer os furos na parede. As justificativas são bem ruins: “não tem espaço suficiente”, “esta prateleira ficaria melhor do lado de lá”, etc (É! Aqui eles têm essa mania de dar palpites em tudo!). A inglesa – que já está vivendo em Pequim há alguns anos e se defende bem no mandarim – mune-se de paciência e explica ao bom senhor que ela já pensou bem, que realmente prefere as estantes naquela determinada posição, que ele pode afastar o sofá pra se mover melhor, blábláblá. Rola uma discussão. E, quando ela já estava, enfurecida, trepada numa escadinha, mostrando ao homem que o trabalho era, sim, viável, ele pára de berrar, dá uma cutucada na perna dela e aponta, lá de baixo, pro porta-retrato em cima da mesa: “É você ali na foto?”.

Brasileira (sim, esta sou eu!) está numa cafeteria, tentando se comunicar com a menina do caixa. Horas de diálogo na base do ‘chinglês’. Enquanto tento esclarecer que “capuccino médio” não é café simples (a funcionária já tinha tentado me dar um copo sem leite, depois, um de café com gelo e estava indo pra máquina botar outro tipo de café num copo maior), a fila vai aumentando e o pessoal atrás vai chegando cada vez mais perto (o que é algo MAIS QUE HABITUAL por aqui!!! Além de desconhecer o conceito 'fila-um-atrás-do-outro', a maioria do povo a-do-ra escutar conversa alheia – sem a menor cerimônia, como se tivesse no recreio do colégio). Já cansada daquela interatividade forçada, com um senhor que insiste em se apoiar em mim, outro que está praticamente contando o dinheiro dentro da minha carteira (de tão próximo e íntimo) e uma menina histérica que só fala (grita) em chinês, no meu ouvido, coisas que eu não entendo, perco a paciência e me debruço sobre o balcão. Pego a caixa de leite e aponto pro copinho que a chinesa tá preparando. Falo no meu ‘mandarim rústico’: “Keyi ma?" (Pode?). Êêê!!! Eureca! Ela entende! Sacode a cabeça três vezes, afirmativamente, enquanto o povo em volta (mais que participativo, àquelas alturas) entona, em coro, o clássico “aaaaaah!” de quem descobriu a pólvora. Pronto. Povo feliz. Cliente feliz. Funcionária do café feliz. Quando já tô indo embora, com meu 'complexo' capuccino COM LEITE na mão, a chinesa do caixa, muito meiga, pergunta se pode fazer uma pergunta. Na hora, penso "Ó, senhor! Novo round de chinglês". Acho que ela vai oferecer açúcar, dizer que capuccino com lactose é mais caro... Mas ela quer saber: “A cor do seu cabelo é natural?”.

5 Comments:

At 11/4/07, Anonymous Anônimo said...

Quem sabe vc volte daí com uma super " paciencia oriental " ...

Vai ter muita chance para desenvolver isso.
Ou não !!!! kkkkkk

bjs,bjs,bjs

 
At 12/4/07, Blogger Duda said...

surreal!
e esse da foto, quem é?

 
At 14/4/07, Anonymous Anônimo said...

"El Mondo Bizarro" é o nome de um bar ótimo em Buenos Aires, mas acho que se encaixa perfeitamente aqui! ;) beijos e saudades Nan´s!

 
At 18/4/07, Blogger Limonada said...

Nossa, adorei sua história! Muito engraçada, Naninha! beijos

 
At 19/4/07, Anonymous Anônimo said...

ja,ja,ja,ja,ja,ja, eres muy divertida
me parto con esas historias

 

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