14 de mai. de 2007

Churrasquinho de Mao Tsé-tung

O mundo inteiro viu... Menos quem só lê os jornais chineses. A imprensa daqui não deu, mas o fato é que sábado um chinês atirou um coquetel Molotov contra O retrato de Mao Tsé-tung, na Praça Tiananmen (ou "Praça da Paz Celestial"), em frente à Cidade Proibida.

Pra traçar um paralelo, esse "pequeno" vandalismo, na China, é mais ou menos tão grave como seria, aí no ocidente, o de cuspir na cruz do Vaticano, em Roma. Ou pichar a estátua da liberdade, em Manhattan, NY. Capici?

As agências de notícia estrangeiras imediatamente deram a notícia, citando testemunhas oculares, chamas enormes no retrato de Mao (uns 3 X 6 metros) e guardas (há centenas deles patrulhando Tiananmen) enlouquecidos, tentando apagar o fogo, que já lambia a lateral esquerda da foto. Toda a área foi isolada e cercada por agentes policiais. Mega movimentação, que, em qualquer lugar do mundo, seria digna de manchete em primeira página. Em qualquer lugar menos aqui, claro. A mídia chinesa permaneceu calada, sem soltar um pio a respeito. Só no dia seguinte, a agência New China rompeu o silêncio... pra anunciar que o autor do gesto tinha sido preso.

Chinês, 35 anos, interiorano (da cidade de Urumqi, no noroeste do país), ele atende pelo nome de Gu Haiou. Ou atendia. Gu Haiou não teve a chance de se apresentar ao mundo. Só sabemos que o protesto dele coincidia com o aniversário do histórico massacre de Tiananmen (que começou com uma greve de fome dos universitários e trabalhadores, em abril de 1989, virou uma macro-manifestação apoiada por centenas de milhares de pessoas, reivindicando democracia. E acabou, como já se sabe, com a repressão do exército entre as noites de 3 e 4 de junho – quando aquele homem desarmado enfrentou os tanques).

O resto? Bom, Gu Haiou certamente não está num hotel cinco estrelas, desfrutado de massagens e banho quente. Deturpar a imagem de Mao é delinqüência grave por aqui. Haja visto o caso do jornalista chinês Yu Dongyue. Naquele célebre maio de 1989, em plena protesta popular, ele resolveu jogar ovos contra o mesmo alvo. Foi condenado a 16 anos de prisão e só saiu ano passado, completamente enlouquecido, sem dizer lé com cré.

Já a foto de Mao... Está intacta e impoluta. Quem passa agora mesmo por Tiananmen não vê nem rastro do fogo de sábado. O gigantesco retrato do soberano foi devidamente substituído por uma cópia (segundo testemunhas, num brevíssimo espaço de menos de 20 minutos!). Aliás, dado curioso: existem várias reproduções da mesma imagem. Todas feitas a partir do original, pintado em 1950. Rola um rodízio permanente. Razão pela qual a foto do homem está sempre impecavelmente limpa apesar da notória poluição de Pequim.

2 Comments:

At 18/5/07, Blogger Limonada said...

E se fosse um estrangeiro a fazer isso? O que aconteceria?? beijos

 
At 21/5/07, Anonymous Anônimo said...

Os noticiários daqui mostraram o cartaz queimado bem rápido, e já haviam 2 chineses numa escada trabalhando pra sumir com o estrago.
É, na China decididamente não é o Elvis Presley q ainda vive...

 

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