
Noite no
Suzie Wong’s, um bar/disco suuuuper cool daqui, onde rola a “
lady’s night”, às quartas-feiras. Das 9PM às 11PM, só mulheres. Os únicos machos do ambiente são os garçons (uma ninhada escolhida a dedo). As ‘clientas’ são recebidas na porta com uma rosa e o primeiro – de uma série – de coquetéis servidos um atrás do outro, a ritmo frenético, todos gratuitos. O conteúdo das taças ninguém sabe. A ‘
surprise,
surprise’ faz parte do jogo. Mas este detalhe é secundário porque, na verdade, o ponto alto da
lady’s night é o show, que rola no fim da noite.
Sabe clube de mulheres ao vivo? Na linha. (Relembrando que Suzie Wong’s, há anos, é eleito o melhor
point noturno de Pequim pelo
Reader Bar and Club Awards. É aquele típico local de metrópole que tem fila na porta, onde todo mundo quer ser visto dentro). Eis que, neste contexto todo
mudernoso, no meio de um monte de mulheres estilosas (com
outfits que provavelmente estavam no editoral da Vogue, semana passada), de repente, a luz vai diminuindo, a música aumentando. E você vira testemunha de um espetáculo...
como chamá-lo?... insólito.
Dois rapazes chineses, fazendo caras e bocas num estilo pseudo sedutor. Um, trajado como um negão do Harlem de Nova York (só faltou o porte do Harlem, os músculos do Harlem, a cara do Harlem...). O outro, com chapeuzinho preto e camiseta transparente, parecia encarnar o Jackson Six, da rama asiática da família de Michael, Janete e os demais pimpolhos. Fazia até uma coreografia meio
Break e usava sapatos pretos (que clamavam por uma mão de graxa) com meias brancas. Acabou a noite, lógico, apelidado de Michael Ping Pong Jackson.
Agora: Por mais estranho que isso possa soar, o fato é que, os dois, juntos, rebolando que nem Chacretes e travestidos como estrelas da madrugada de Copacabana, causaram furor na boite. As mulheres estavam ensandecidas (ainda não sei se era teatro, deboche, ou se tavam levando tudo a sério mesmo). Como vivi aquilo de forma meio inesperada, não apurei. Só lembrei muito de uma amiga brasileira, que tem queda por tórax cabeludos (
Cli, segundo depoimentos locais, peitoral peludo aqui é mais raro que trevo de quatro folhas!!!).
E, pra encerrar a noite – de
ladys – os
lords se apresentaram no contesto, logo depois do
freak show. Às 11PM em ponto, acaba o clima Harlem-Jacskon. Cinderela vira abóbora. Muda a música e os belos garçons desaparecem. Uns (feios) recolhem as taças – com drink, sem drink –, enquanto o porteiro abre o cortinão de veludo vermelho da entrada. Liberada a tourada, a multidão que tava na porta invade o local. Só homens! Uns centos deles. Adentram o salão com olhares de caçador. Uma fauna... Mas, aí, encerro o relato e tiro meu chapéu pro marqueteiro que implementou essa tal de
lady’s night. Machista até a medula, o negócio deve render bons trocados. No início da noite, agregam-se as mulheres (e elas comparecem aos montes – bebida grátis,
barmen galã, show
trash com pretensão artística, música boa). Já os homens (dispostos a fazer fila, passar frio e abrir a carteira pra encher o bolso do dono do estabelecimento) se digladiam na perspectiva de esbarrar com alguma moçoila “aberta a novos relacionamentos”, depois de tantos coquetéis gratuitos. Dali em diante, de graça nem injeção na testa. Tudo passa a ser pago – e custa um olho da cara.