30 de abr. de 2007

Guerreiros imortais

Momento cultural-turístico-instrutivo:

Conhece os guerreiros de terracota (Bingma Yong)? Conferi ao vivo (semana passada, fui a Xi'An fazer uma reportagem) e tá constatado: os soldadinhos são mesmo uma relíquia arqueológica.

Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, eles somam umas 7.000 estátuas em argila, todas em tamanho real – tipo 1,8 m – feitas mais de 220 anos antes da Era Cristã. E descobertas, por pura casualidade, em 1974, por uns camponeses.

Grande parte desse exército ainda está soterrada (as escavações continuam). Outros tantos viraram andarilhos internacionais e fazem parte de uma coleção que viaja por exposições mundo afora (inclusive já visitaram o Brasil em 2003). E a maioria deles fica à mostra exatamente onde foram encontrados.

Os detalhes são impressionantes. Cada guerreiro tem expressões faciais diferentes. Os especialistas acreditam que retratam os verdadeiros guardas imperiais, indivíduo por indivíduo. Estão todos em posição de combate, com uniformes segundo o nível hierárquico. Os arcos, espadas, lanças e escudos encontrados também são autênticos. Aliás, algumas armas de metal ainda estavam afiadas. A ponta das flechas tinha chumbo envenenado. E os dentes dos cavalos que puxam as carroças foram moldados um a um. Literalmente, um “trabalho de chinês”!

Xi'An

Esse tesouro da arqueologia chinesa fica em Xi'An – que foi primeira capital da China (no centro do país, a 2 horas de vôo de Pequim). Mais especificamente nas redondezas do colossal mausoléu do imperador Qin Shi Huang, dentro de uma espécie de trincheira subterrânea que defende a tumba dele.

O exército de terracota tinha a missão de acompanhar o soberano depois da morte (procedimento-padrão da época... com a “sutil” diferença de que, normalmente essa galera era sepultada VIVA junto com o imperador!!!). Ou os guerreiros de Xi'An tinham uma lábia incrível, ou constavam de um plano mais ambicioso. Ninguém sabe. O mandatário, na época, morreu antes de acabar a empreitada.


Em tempo: Qin (pronuncia-se 'tchin') foi o primeiro imperador da China. Ganhou o trono com 13 anos de idade e assumiu o poder aos 21. Se declarou monarca absoluto e reinou - como não? - com mão de ferro. Constantemente se comparava aos deuses. Mandou degolar todo mundo que atravessou seu caminho e queimou os livros de literatura clássica “para eliminar a heresia”. Também confiscou armas e instalou um sistema legal cruel para punir criminosos. No meio tempo, resolveu deixar “um legado que perdurasse mais 1.000 anos”. Além de ter mandado erguer a célebre Grande Muralha, passou à história como o autor de um alfabeto único e de um padrão para pesos e medidas na China. Só morreu no intento, coitado, de conseguir a juventude perene (você vê? Já naquela época, a pressão era enorme!). Bateu as botas justamente a caminho da legendária “Ilha dos Imortais”, onde esperava encontrar um elixir pra vida eterna.

Bom, se bem que, de certa forma, ele ficou imortal. Ou, senão, estaríamos, agora – eu escrevendo e você, lendo – sobre dele, mais de 2.200 anos depois?

15 de abr. de 2007

Pérolas aos porcos


Três fatos introdutórios:
  • Trinta minutos (t-r-i-n-t-a-m-i-n-u-t-o-s) é o tempo que pode durar o orgasmo de um porco (na próxima encarnação, já sabe...)
  • Este é o ano do porco, segundo o calendário chinês. Aliás, ano do “porco dourado” - que só acontece a cada 60 anos
  • Quem nasce sob esta combinação é abençoado com muita sorte e bonança, segundo o horóscopo local (levado MUITO a sério por aqui)

Uma previsão nacional:

  • Em 2007, vai haver um super baby boom. Como cada casal pode, por lei, ter um único filho, muita gente planejou o rebento para este ano, o ano do tal porco de ouro. De acordo com a expectativa oficial, só em Pequim, devem nascer 140 mil crianças. Quase o dobro da média, 78 mil/ ano.

Recordando:

  • Os chineses são extremamente supersticiosos...

E a dúvida que surgiu, entre estrangeiros que moram aqui, numa conversa de bar: “O lance dos orgasmos suínos favorece os chineses que copulam sob o signo do porco???”

14 de abr. de 2007

Um pássaro? Um avião?

Passo pela sala e ¡QUE SUSTO! Tem um homem pendurado do lado de fora da janela. Imutável, ignorou meu assombro do lado de dentro, e continuou limpando o vidro com a típica parcimônia chinesa, como se trabalhar como um pêndulo humano no 28° andar de um prédio fosse a coisa mais natural do universo (...o que, de fato, parece ser nessa ‘surrealidade’ chinesa).

Eu e meus botões: Esse ar blazé é só fachada (nunca melhor dito), ou o cara mantêm a sobriedade mesmo quando dá de cara com uma vizinha andando alegremente de calcinha pela casa?

E Blogspot volta a ser acessado na China

Não percam as cenas do próximo capítulo

10 de abr. de 2007

Nova modalidade de bloqueio

Há alguns dias, o blogspot voltou a ser página non grata na internet chinesa. Mas, agora, rola um diferencial. Posso acessar minha conta, postar à vontade, modificar os textos, aceitar comentários, etc. Só não dá pra visualizar nada. Vocês vêem meu blog. Eu não. Incrível como a China consegue ser peculiar até na censura!

A curiosidade chinesa


Todas histórias verídicas de estrangeiros aqui em Pequim:

Business man francês que veio à China pra fazer umas mudanças financeiras na multinacional onde trabalha. Imbróglio delicado. Mas ele chega munido de disposição, estatísticas várias, justificações com diversas casas decimais, diagrama de prioridades, blábláblá. Mostra tudo isso na reunião de abertura, quando agrupa, por primeira vez, as oito pessoas, todas chinesas, com quem vai trabalhar. A apresentação dura mais ou menos uma hora (u-m-a-h-o-r-a!) e detalha em profundidade os objetivos e desafios do novo plano. O tempo todo, os espectadores mudos, calados. O francês acha estranho, mas segue, delineando o sumário do negócio. No final, faz a pergunta do milhão: “Alguém tem alguma dúvida?”. Ninguém se manifesta. Ele espera, intrigado, já puxando um slide de power point pra defender os números mais conflitantes. Nada. Silêncio na sala. O francês insiste de novo... E eis, então, que um rapaz levanta o dedo. “Oh, sim! Diga”. E aí vem a interrogação: “Como se pronuncia seu nome?”. Nisso, outro, motivado pela iniciativa do colega, já emenda: “Você tem uma foto da sua família?”.

Amiga inglesa recebe funcionário chinês da loja onde ela comprou uma estante. O homem tem que montar o móvel na sala, mas se recusa a fazer os furos na parede. As justificativas são bem ruins: “não tem espaço suficiente”, “esta prateleira ficaria melhor do lado de lá”, etc (É! Aqui eles têm essa mania de dar palpites em tudo!). A inglesa – que já está vivendo em Pequim há alguns anos e se defende bem no mandarim – mune-se de paciência e explica ao bom senhor que ela já pensou bem, que realmente prefere as estantes naquela determinada posição, que ele pode afastar o sofá pra se mover melhor, blábláblá. Rola uma discussão. E, quando ela já estava, enfurecida, trepada numa escadinha, mostrando ao homem que o trabalho era, sim, viável, ele pára de berrar, dá uma cutucada na perna dela e aponta, lá de baixo, pro porta-retrato em cima da mesa: “É você ali na foto?”.

Brasileira (sim, esta sou eu!) está numa cafeteria, tentando se comunicar com a menina do caixa. Horas de diálogo na base do ‘chinglês’. Enquanto tento esclarecer que “capuccino médio” não é café simples (a funcionária já tinha tentado me dar um copo sem leite, depois, um de café com gelo e estava indo pra máquina botar outro tipo de café num copo maior), a fila vai aumentando e o pessoal atrás vai chegando cada vez mais perto (o que é algo MAIS QUE HABITUAL por aqui!!! Além de desconhecer o conceito 'fila-um-atrás-do-outro', a maioria do povo a-do-ra escutar conversa alheia – sem a menor cerimônia, como se tivesse no recreio do colégio). Já cansada daquela interatividade forçada, com um senhor que insiste em se apoiar em mim, outro que está praticamente contando o dinheiro dentro da minha carteira (de tão próximo e íntimo) e uma menina histérica que só fala (grita) em chinês, no meu ouvido, coisas que eu não entendo, perco a paciência e me debruço sobre o balcão. Pego a caixa de leite e aponto pro copinho que a chinesa tá preparando. Falo no meu ‘mandarim rústico’: “Keyi ma?" (Pode?). Êêê!!! Eureca! Ela entende! Sacode a cabeça três vezes, afirmativamente, enquanto o povo em volta (mais que participativo, àquelas alturas) entona, em coro, o clássico “aaaaaah!” de quem descobriu a pólvora. Pronto. Povo feliz. Cliente feliz. Funcionária do café feliz. Quando já tô indo embora, com meu 'complexo' capuccino COM LEITE na mão, a chinesa do caixa, muito meiga, pergunta se pode fazer uma pergunta. Na hora, penso "Ó, senhor! Novo round de chinglês". Acho que ela vai oferecer açúcar, dizer que capuccino com lactose é mais caro... Mas ela quer saber: “A cor do seu cabelo é natural?”.

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