Guerreiros imortais
Momento cultural-turístico-instrutivo:
Conhece os guerreiros de terracota (Bingma Yong)? Conferi ao vivo (semana passada, fui a Xi'An fazer uma reportagem) e tá constatado: os soldadinhos são mesmo uma relíquia arqueológica.
Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, eles somam umas 7.000 estátuas em argila, todas em tamanho real – tipo 1,8 m – feitas mais de 220 anos antes da Era Cristã. E descobertas, por pura casualidade, em 1974, por uns camponeses.
Grande parte desse exército ainda está soterrada (as escavações continuam). Outros tantos viraram andarilhos internacionais e fazem parte de uma coleção que viaja por exposições mundo afora (inclusive já visitaram o Brasil em 2003). E a maioria deles fica à mostra exatamente onde foram encontrados.
Os detalhes são impressionantes. Cada guerreiro tem expressões faciais diferentes. Os especialistas acreditam que retratam os verdadeiros guardas imperiais, indivíduo por indivíduo. Estão todos em posição de combate, com uniformes segundo o nível hierárquico. Os arcos, espadas, lanças e escudos encontrados também são autênticos. Aliás, algumas armas de metal ainda estavam afiadas. A ponta das flechas tinha chumbo envenenado. E os dentes dos cavalos que puxam as carroças foram moldados um a um. Literalmente, um “trabalho de chinês”!
Xi'An
Esse tesouro da arqueologia chinesa fica em Xi'An – que foi primeira capital da China (no centro do país, a 2 horas de vôo de Pequim). Mais especificamente nas redondezas do colossal mausoléu do imperador Qin Shi Huang, dentro de uma espécie de trincheira subterrânea que defende a tumba dele.
O exército de terracota tinha a missão de acompanhar o soberano depois da morte (procedimento-padrão da época... com a “sutil” diferença de que, normalmente essa galera era sepultada VIVA junto com o imperador!!!). Ou os guerreiros de Xi'An tinham uma lábia incrível, ou constavam de um plano mais ambicioso. Ninguém sabe. O mandatário, na época, morreu antes de acabar a empreitada.
Em tempo: Qin (pronuncia-se 'tchin') foi o primeiro imperador da China. Ganhou o trono com 13 anos de idade e assumiu o poder aos 21. Se declarou monarca absoluto e reinou - como não? - com mão de ferro. Constantemente se comparava aos deuses. Mandou degolar todo mundo que atravessou seu caminho e queimou os livros de literatura clássica “para eliminar a heresia”. Também confiscou armas e instalou um sistema legal cruel para punir criminosos. No meio tempo, resolveu deixar “um legado que perdurasse mais 1.000 anos”. Além de ter mandado erguer a célebre Grande Muralha, passou à história como o autor de um alfabeto único e de um padrão para pesos e medidas na China. Só morreu no intento, coitado, de conseguir a juventude perene (você vê? Já naquela época, a pressão era enorme!). Bateu as botas justamente a caminho da legendária “Ilha dos Imortais”, onde esperava encontrar um elixir pra vida eterna.
Bom, se bem que, de certa forma, ele ficou imortal. Ou, senão, estaríamos, agora – eu escrevendo e você, lendo – sobre dele, mais de 2.200 anos depois?