29 de mar. de 2007

Chinelo velho tamanho GG

Já dizia meu antigo professor do colégio: “tem sempre um chinelo velho para um pé cansado”. Na China, idem. E olha que, desta vez, o pé era ‘tamanho Itu’. O homem mais alto do mundo (sim, chinês!) acaba de casar-se.

Bao Xishun andava desiludido, reclamando que não encontrava uma companheira pra juntar as escovas de dente. Segundo ele, o problema eram seus (nada menos que) 2,36 metros – atestados pelo Guinness.

Solidarizada com o drama de Bao, a imprensa chinesa resolveu lançar uma ‘campanha cara metade’. Vinte candidatas à esposa responderam à chamada e a eleita foi Xia Shujian, uma “baixinha” de 1,68 metro, que trabalhava num centro comercial no interior da Mongólia. O namoro da dupla foi bem rápido – um mês –, mas deve ter sido intenso. A nova Ms. Bao afirma ter até esquecido a descomunal estatura do marido. Só tem olhos pra sua “amabilidade e consideração”. Pois é. Segundo aquele mesmo professor do colégio, “na horizontal, tudo se encaixa”.

O amor é cego...surdo, mudo e sem tato

Aproveitando a onda matrimonial, mais um recordista do Guinness, o homem mais peludo do mundo (coincidentemente, conterrâneo do mais alto!) também anunciou que vai se casar este ano. Yu Zhenhuan é cantor de rock, tem 30 primaveras vividas e nada menos que 96% (!!!) do corpo cobertos de pêlos. Conheceu a futura ‘Senhora penugem’ via internet. Será que ela tem webCam?

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Em tempo de Guiness: Uma amiga-leitora escreve, contando que a cabeleira mais longa do planeta também está aqui! Pertence a uma chinesa chamada Xie Qiuping. Desde os 13 anos, ela não corta as madeixas. Já ostenta mais de 5,6 metros de cabelo!!! Só não apurei ainda se vai casar também. Imagina o cafuné do marido.

27 de mar. de 2007

Blog bloqueado

O blog não pôde ser atualizado porque estava bloqueado. Foi a 3° vez, desde agosto do ano passado. Sabem todos: aqui bloqueiam-se e desbloqueiam-se sites como Blogspot e Wikipedia, segundo critérios muito particulares, que só os soberanos chineses conhecem em profundidade. Nós, meros mortais, simplesmente damos de cara com aquela mensagem impertinente de “Internet Explorer cannot display the webpage” e morremos de raiva (calados, pra não passar os últimas dias como mártir, numa obscura prisão chinesa). Se os 123 milhões de internautas chineses não reclamam e até Google, Yahoo e Microsoft se renderam à censura (aquele pacto polêmico com o governo chinês – quando os buscadores são acessados através de uma conexão local, os resultados passam por um filtro que lima as páginas web “inadequadas”, sem a menor cerimônia), quem sou eu pra especular sobre greve de fome, suicídio coletivo, seqüestro do embaixador americano ou indisciplinas coletivas do gênero? Melhor encerrar este post logo pra não perigar perder a conexão à internet, o telefone, a luz, a água, o gás... Mãe, você leva merenda pra mim na cadeia?

15 de mar. de 2007

Michael Ping Pong Jackson

Noite no Suzie Wong’s, um bar/disco suuuuper cool daqui, onde rola a “lady’s night”, às quartas-feiras. Das 9PM às 11PM, só mulheres. Os únicos machos do ambiente são os garçons (uma ninhada escolhida a dedo). As ‘clientas’ são recebidas na porta com uma rosa e o primeiro – de uma série – de coquetéis servidos um atrás do outro, a ritmo frenético, todos gratuitos. O conteúdo das taças ninguém sabe. A ‘surprise, surprise’ faz parte do jogo. Mas este detalhe é secundário porque, na verdade, o ponto alto da lady’s night é o show, que rola no fim da noite.

Sabe clube de mulheres ao vivo? Na linha. (Relembrando que Suzie Wong’s, há anos, é eleito o melhor point noturno de Pequim pelo Reader Bar and Club Awards. É aquele típico local de metrópole que tem fila na porta, onde todo mundo quer ser visto dentro). Eis que, neste contexto todo mudernoso, no meio de um monte de mulheres estilosas (com outfits que provavelmente estavam no editoral da Vogue, semana passada), de repente, a luz vai diminuindo, a música aumentando. E você vira testemunha de um espetáculo... como chamá-lo?... insólito.

Dois rapazes chineses, fazendo caras e bocas num estilo pseudo sedutor. Um, trajado como um negão do Harlem de Nova York (só faltou o porte do Harlem, os músculos do Harlem, a cara do Harlem...). O outro, com chapeuzinho preto e camiseta transparente, parecia encarnar o Jackson Six, da rama asiática da família de Michael, Janete e os demais pimpolhos. Fazia até uma coreografia meio Break e usava sapatos pretos (que clamavam por uma mão de graxa) com meias brancas. Acabou a noite, lógico, apelidado de Michael Ping Pong Jackson.

Agora: Por mais estranho que isso possa soar, o fato é que, os dois, juntos, rebolando que nem Chacretes e travestidos como estrelas da madrugada de Copacabana, causaram furor na boite. As mulheres estavam ensandecidas (ainda não sei se era teatro, deboche, ou se tavam levando tudo a sério mesmo). Como vivi aquilo de forma meio inesperada, não apurei. Só lembrei muito de uma amiga brasileira, que tem queda por tórax cabeludos (Cli, segundo depoimentos locais, peitoral peludo aqui é mais raro que trevo de quatro folhas!!!).

E, pra encerrar a noite – de ladys – os lords se apresentaram no contesto, logo depois do freak show. Às 11PM em ponto, acaba o clima Harlem-Jacskon. Cinderela vira abóbora. Muda a música e os belos garçons desaparecem. Uns (feios) recolhem as taças – com drink, sem drink –, enquanto o porteiro abre o cortinão de veludo vermelho da entrada. Liberada a tourada, a multidão que tava na porta invade o local. Só homens! Uns centos deles. Adentram o salão com olhares de caçador. Uma fauna... Mas, aí, encerro o relato e tiro meu chapéu pro marqueteiro que implementou essa tal de lady’s night. Machista até a medula, o negócio deve render bons trocados. No início da noite, agregam-se as mulheres (e elas comparecem aos montes – bebida grátis, barmen galã, show trash com pretensão artística, música boa). Já os homens (dispostos a fazer fila, passar frio e abrir a carteira pra encher o bolso do dono do estabelecimento) se digladiam na perspectiva de esbarrar com alguma moçoila “aberta a novos relacionamentos”, depois de tantos coquetéis gratuitos. Dali em diante, de graça nem injeção na testa. Tudo passa a ser pago – e custa um olho da cara.

12 de mar. de 2007

O gordinho tá em todas

Chama-se Qian, mas ficou célebre como “Xiaopang” (gordinho).

Recebi tantos e-mails com fotos dele que resolvi postar aqui.

Reza a lenda que o menino chinês tava de bobeira, um dia, ao acaso, quando alguém tirou uma foto dele – aquela, de uniforme da escola (aí ao lado). Trucaram a tal imagem e colocaram na internet. Daí pro mundo, foi um pulo. Xiaopang teve um sucesso meteórico. Ninguém nem sabe bem por onde ou como anda o rapaz atualmente (olha a foto mais recente também aí ao lado, no canto inferir direito). O certo é que essas bochechas enooormes e esse olharzinho desconfiado do Gordinho são muito populares internet afora. De Batman a Mona Lisa, o personagem deu até origem a um site dedicado a pessoas gordas, aqui na China: http://www.xiaopang.cn. Há uma comunidade de culto a Xiaopang!!! Mítico.

Como diria Andy Warhol, são os tais 15 minutos de cada mortal.

8 de mar. de 2007

Caos inicial

Falta “só” compreender (empiricamente) a dinâmica deste novo mundo. Sabe quando você disca números de telefone que sempre dão ocupado (porque não sabe que não precisa colocar o código da cidade na frente); pega um táxi pra ir ao restaurante e o motorista fica irritado (porque o endereço é a uma quadra dali); ou raspa o prato pro anfitrião ver que você está satisfeito/a (e ele coloca mais comida porque, na cultura local, quem faz isso ainda tá com fome)... Sabe? Pois é. Tô nessa fase. Ainda. São diários os 'abdominais do riso' com o cúmplice - que também tem passado saias justas memoráveis.

Além do caos logístico em casa, rola uma constante sensação de que os dias voam e não fiz nada. De repente, o relógio já tá marcando 11PM, meia noite. Sem forças nem pra mudar de roupa, me atiro na cama e rezo a deus pra noite ser longa. “Se der, senhor, acrescenta também uma hora extra no dia”. Tenho 359 planos pra pôr em prática. Assim que a vida profissional tiver organziada, por exemplo, vou correndo me matricular numa academia de kung fu. "Em Roma, como os romanos" e aqui, como Bruce Lee (que nem bem era chinês, mas enfim). Sonho com a etapa em que já estarei falando mandarim, comendo escorpião e dominando arte marcial ;-)

4 de mar. de 2007

Chegada a full

Já estou deste lado de cá do planeta, em franco processo de ambientação.

Ficam pros próximos posts os contrastes da língua, comida, geografia e paisagem humana deste microcosmo singular. Por hora, ainda estou absorvida pelas novidades pessoais.

Desta vez, pelo menos, o jet lag foi vencido de modo glamuroso: Nas mãos de um hábil massagista chinês. Além de cobrar módicos 135 yuans (37 reais) pela sessão – quase terapêutica – de alivio muscular, o sujeito ainda teve a cortesia de me confundir com Halle Berry, a Bond girl! Pena que levava uma hora pra formular frases em inglês (e eu, duas horas mais pra tentar soltar meia sílaba num mandarim ‘meia boca’). De qualquer forma, é grande a motivação no quesito “integração gramatical”. Em menos de 72 horas como residente local, já faço parte de uma turma de estrangeiros (um japonês, uma coreana, uma espanhola, um vietnamita e dois irmãos do Congo), estudantes de chinês. Jornada intensiva pra ver se a coisa pega no tranco e muita pré-disposição – coletiva – pra pagar mico, repetindo, incansáveis, sonoridades do gênero “uóóó xê xuêshaaaann”, como num coro mirim. Singelo.

Animação também pra descobrir as particularidades do cotidiano e dar valor à globalização, que facilitou, por exemplo, a ida ao supermercado. Graças ao merchandising internacional, foi possível distinguir refrigerante de xampu, enlatado de biscoito canino e arroz de farinha. Só no caso do leite, deu bode. Desnatado, integral, de soja, de cabra, puro, com sabor, de vitaminas, animal, vegetal... Era muita opção pra pouca explicação (compreensível). Ainda ensaiei uma estratégia interativa, pedindo informação (via mímica) a uma funcionária. Mas, depois de receber uns berros pouco amistosos como resposta, resolvi ser prática. Trouxe um exemplar de cada cor pra provar todos e resolver, depois, qual o campeão de preferência. Abandonei também uns bolinhos chineses, apesar da embalagem colorida e atrativa. Imersão demais pra quem acabou de aterrizar. Apelei ao cúmplice, que insistia em provar de tudo: “Ai, vamos deixar pra comer comida de cachorro outro dia. Hoje já há grandes chances de estarmos levando leite de gato pra casa”.


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